26 de setembro de 2010

softness

passei o dia a olhar-te.
peguei numa pá e escavei, não sabia bem qual a profundidade óptima para te colocar. medi com o olhar e lá te deixei. tapei-te. molhei a terra que te cobriu. pousei a pá e sentei-me. eram as seis e trinta e dois da manhã. o sol subiu pelo vale atrás de mim. desculpas tive de te pedir, não gosto nada de virar costas. o que estava do outro lado valia a pena olhar, no final tive pena por não teres conseguido ver comigo. quando ia lá no alto, tu apareceste pela primeira vez. eras verde.
às três e doze da tarde começou a pingar, cada vez mais e mais, uma jorrada de água caiu sobre nós. fiquei ensopada e a espirrar.
tiveste o teu auge a meio da tarde. as cores das tuas flores murcharam para darem a vez aos teus frutos. tive de os saborear. o gosto da tua vida era delicioso. chegou a noite e tu esmoreceste aos poucos. voltaste para o fundo abaixo do profundo da manhã antes do dia. não pude fazer nada, não pude impedir que fosses para sempre embora. era a tua vida e não a minha. se pudesse trocar, teria o feito. pior que saber que já não a tens, é saber que a tenho sem a tua.
levantei-me e fui. limpei a cara. entrei no banho. abri a cama, cai no sono.

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