27 de fevereiro de 2010

passarinho

Hoje estava na cozinha e a minha mãe pegava o pássaro que salvou pela manhã. Era estranho, mas bonito o bicho. Ele tinha asas, era preto, cinza, com um tom encarnado desmaiado sobre a sua cabeça. Minha mãe o salvou de uma morte sem afecto, salvou-o do vento que esganava a aurora sem raios de sol. Ele foi salvo. Ele era pássaro mas não voava. A força do seu ser não lhe fazia vontade. A minha mãe pegava-o pelas duas mãos. Pela tradição dos tempos antigos, azeite pelo bico é cura de doença, e assim lhe fez. Doença de certo tinha, aquele pássaro que não fugia. Ela chegou de rajada e impressionou mais que a tempestade que se adivinhava. Foi um momento de silêncio agonizante. Foi o momento do último respirar, do grito final da vida. Ficou contorcido o corpo que deixou de ter a alma. Vi anti-vida. Tive a percepção real do paralelo do universo. Tive a verdadeira noção do que é existir e deixar de ser. Adeus passarinho.

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